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A Artista Cristã que Morreu aos 27 Anos

Fé fortalecida, esperança celestial, vida de amor

Por Erica Richards

Onde estou dormindo o sono final
Não derrames lágrimas, pois a morte
É o descanso, enfim. É minha sorte.
Chora por vivos, sujeitos ao mal.
Não te lamentes por quem já repousa
Na sepultura, livre dos seus fardos,
Das tristezas da vida, dos seus cardos.
Na tumba silenciosa, ninguém ousa
Perturbar o descanso que eu almejo
Até quando Jesus iluminar
As trevas que vierem me cercar.
Deixa-me em paz. É isso que desejo.
Morro! ilumina-me o fanal
Da esperança de logo reencontrar
Amigos a quem amo, para reinar
Com Ele para sempre, ao final.*

Essas palavras, poderosas e incisivas, foram escritas por uma jovem que estava morrendo, em 1855. Sua curta vida foi um testemunho de sacrifício pela fé, e suas habilidades artísticas e criativas exerceram influência duradoura sobre nossa igreja, com palavras de esperança. Annie Rebekah Smith foi pioneira na fé adventista.

Nascida em 1828, em West Wilton, New Hampshire, Annie foi batizada na Igreja Batista, aos 10 anos de idade. Ela e a família deixaram a fé batista para unir-se ao movimento milerita, em 1844. Por ocasião do desapontamento, em outubro daquele ano, Annie decidiu colocar suas energias na literatura e na carreira artística. Por seis anos, ela frequentou sete escolas públicas diferentes. Estudou seis semestres no Seminário Charlestown, em Massachusetts. De natureza não confessional, o seminário oferecia curso bíblico semanalmente e exigia que os alunos fossem à igreja duas vezes todos os domingos.

Durante esses anos, a mãe de Annie ficou preocupada com ela e conversou sobre o assunto com o pioneiro Joseph Bates, quando este visitou o lar dos Smith. Bates insistiu com a Sra. Smith para que dissesse a Annie que ele iria pregar em Boston e que pedisse a ela para comparecer.

Naquela mesma noite, Annie Smith e Joseph Bates tiveram um sonho similar: todos os assentos da sala onde Bates pregaria, estavam preenchidos, menos um. No momento em que ele estava abrindo a Bíblia para pregar, a porta se abriu e uma garota (Annie) tomou o último assento.

Na noite seguinte, ao ir à reunião, Annie se perdeu no caminho e o sonho tornou-se realidade quando ela ocupou o último lugar vazio do salão. Quando os sonhos foram revelados, ela se sentiu profundamente tocada pelo ocorrido. Pouco tempo depois, Annie aceitou a fé adventista.

No dia 16 de setembro de 1851, poucas semanas após as conferências de Bates, o poema de Annie “Não Tema, Pequeno Rebanho” foi publicado na Review and Herald (Revista Adventista americana). Impressionado, o editor Tiago White insistiu para que Annie fosse para Nova Iorque e trabalhasse para a Review como revisora e editora.

Annie hesitou em aceitar a proposta, explicando aos White que sofria com um problema na visão, o qual a impedia de fazer tal trabalho. Enquanto estudava artes no seminário, Annie forçou muito os olhos e, depois de trabalhar por oito meses em um croqui de Boston, revelou que mal podia enxergar. Por esse motivo, mais tarde, ela decidiu desistir de seus sonhos de ser artista de sucesso e, aceitando a oferta de James White, mudou-se para Rochester.

O trabalho nem sempre foi fácil. Eram tempos economicamente difíceis e o movimento adventista era frequentemente ridicularizado e criticado. Por três anos, Annie trabalhou diligentemente para a Review, e acabou assumindo total responsabilidade pela revista, quando os White se ausentavam. Ela continuou a usar sua criatividade para publicar 45 hinos e poemas, três dos quais ainda permanecem no hinário americano: “How Far From Home” (Quão Longe Estamos do Lar), “I Saw One Weary” (Vi Alguém Cansado) e “Long Upon the Montains” (Longe Sobre as Montanhas).

Alguns pedaços da história de Annie Smith são imprecisos e, embora prováveis, não são totalmente claros. Embora fosse muito dedicada ao movimento adventista, a devoção pessoal de Annie por John Nevins Andrews acabou em desilusão. Andrews morava em Rochester durante o tempo em que Annie trabalhava para a Review e há indícios de que havia esperança de um futuro juntos. Inexplicavelmente, Andrews transferiu sua afeição para Angeline Stevens, deixando Annie com o coração partido.

“A decepção de Annie custou-lhe a vida”, escreveu Ellen G. White a Andrews, em uma carta. Em novembro de 1854, Annie contraiu tuberculose e voltou para casa. A esperança chegou na forma de tratamento hidroterápico em uma estância balneária da região, mas logo desapareceu, quando os sintomas pioraram.

Quando ficou claro que não viveria por muito tempo, Annie concentrou-se em um objetivo final: editar um livro com seus poemas. Seu irmão, Urias Smith, que na ocasião também trabalhava como editor da Review and Herald, voltou para casa para ajudá-la na publicação. Ela viveu dez dias depois da conclusão de seu trabalho. Como um tributo à sua irmã, Urias desenhou e imprimiu sua flor preferida, a peônia, na página do título do livro.

A mãe de Annie relatou a morte da filha em um diário, descrevendo a paz que Annie transmitia, enquanto, bravamente e sem medo, encarava a morte. “O céu está aberto”, exclamou ela. “Vou ressurgir na primeira ressurreição.”

Por 27 anos, Annie Smith viveu discretamente, mas em genuína dedicação à fé. Seus poemas e hinos resistiram através dos anos e são para nós uma janela para o passado de um movimento que foi conduzido principalmente por jovens: dias difíceis, sacrifício e compromisso com uma causa maior do que o eu. Mesmo em sua tristeza e de coração partido, ela continuou a trabalhar para o bem. Sua vida é um lindo exemplo de alguém que serviu, abrindo o caminho para que continuássemos a missão de contar aos outros sobre Cristo e nos preparar para muito em breve irmos para o lar.

Perto do lar! Abençoada esperança
Que anima o solitário coração,
Traz bálsamo que cura e confiança
Que anima tudo o que lhe vem à mão,
Seca as lágrimas do sofredor.
Não chores, pois. Vamos nos reencontrar
Onde os passos dos maus não têm rumor.
Nossas provas passaram; a alegria
Completa está e sempre vai
Acompanhar o nosso dia-a-dia,
Salvos, enfim, no lar de nosso Pai. .

*Versão dos poemas por Gesson Magalhães
**A bibliografia a seguir contribuiu grandemente para a produção deste artigo: Ronald Graybill, “Annie Smith, Her Life and Love” (Review and Herald, v. 153, 1º de abril de 1976), p. 4-7; Judith P. Nembhard, “Annie Smith’s Hymns of the Blessed Hope” (Review and Herald, v. 163, 28 de agosto de 1986), p. 12-14; e James R. Nix, “Annie Smith: Pioneer Poet” (Review and Herald, v. 164, 17 de dezembro de 1987), p. 17.
Erica Richards cursa o último ano da faculdade na Southern Adventist University, Collegedale, Tennessee, EUA. Quando escreveu este artigo, trabalhava como estagiária na Adventist Review.
Fonte: IASD Andradina/Publicado Originalmente em Adventist World

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