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Ben Carson, Emory e a Moralidade da Evolução

Dr. Ben Carson

Em artigo publicado no The Baltimore Sun, Richard Weikart, professor de História na California State University, explica por que o protesto esboçado na Universidade de Emory contra Ben Carson, o proeminente neurocirurgião que contesta a teoria da evolução, é equivocado (Weikart é autor do livro From Darwin to Hitler: Evolutionary Ethics, Eugenics, and Racism in Germany).

Antes de passar ao texto do Dr. Richard, acredito ser útil, para efeito de contextualização, ressaltar algumas palavras usadas por Ben Carson na entrevista que teria sido a fonte da “consternação”:

“By believing we are the product of random acts, we eliminate morality and the basis of ethical behavior.” (Ao crer que somos o produto de “atos do acaso”, eliminamos a moralidade e o fundamento do comportamento ético.)

Ultimately, if you accept the evolutionary theory, you dismiss ethics, you don’t have to abide by a set of moral codes…, you determine your own conscience based on your own desires. (Em última análise, se você aceita a teoria da evolução, dipensa a ética, não precisa defender um conjunto de códigos morais e determina sua própria consciência baseado nos próprios desejos.)

Segue, então, o que o professor Weikart escreveu sobre o assunto:

Quase 500  professores e estudantes da Emory University expressaram sua consternação em razão de que o orador de segunda-feira não segue a linha ideológica deles quando se trata de biologia evolutiva. Sim – suspiro –, Ben Carson, o renomado neurocirurgião da Universidade de Johns Hopkins, não acredita na teoria evolutiva. Não só isso: os professores de biologia de Emory e apoiadores também acusam o Dr. Carson de cometer um crime de pensamento, porque ele supostamente “iguala a aceitação da evolução com falta de ética e moralidade”.

Como sou um historiador que estudou e publicou sobre a história da ética evolucionista, fiquei bastante surpreso com a “consternação” dos membros da Universidade Emory  sobre a crença do Dr. Carson de que a evolução mina a ética e a moralidade objetiva. No verão passado, eu assisti a uma grande conferência interdisciplinar da Universidade de Oxford sobre “A Evolução da Moralidade e a Moralidade da Evolução”. Assim, estou bem ciente de que há uma variedade de pontos de vista na academia sobre o tema. No entanto, muitos evolucionistas, desde a época de Darwin até o presente (incluindo um bom número nessa conferência  em Oxford), têm argumentado e ainda estão discutindo precisamente o ponto que o Dr. Carson levantou: eles afirmam que a moralidade evoluiu e, portanto, não tem existência objetiva.

Um dos oradores na conferência de Oxford era o proeminente filósofo da ciência Michael Ruse, que afirmou em um artigo de 1985 em coautoria com o biólogo de Harvard E.O.Wilson: “Ética como a entendemos é uma ilusão imposta a nós por nossos genes para nos levar a cooperar.” Por que os biólogos de Emory tentam fazer com que o Dr. Carson pareça um  tolo por afirmar que a evolução enfraquece a ética, enquanto um dos biólogos evolucionistas e um dos principais filósofos da ciência admitem que a evolução destrói qualquer moralidade objetiva? O professor Wilson em seu livro “Consilience”, argumentou: “Ou preceitos éticos, como justiça e direitos humanos, são independentes da experiência humana, ou então eles são invenções humanas.” Ele rejeitou a primeira explicação, à qual chamou de ética transcendentalista, em favor da última, que chamou de ética empirista.

Todo o campo da sociobiologia, que é um campo vigoroso da biologia fundada pelo Sr. Wilson na década de 1970, pressupõe que a moralidade é o produto de processos evolutivos e tenta explicar a maioria dos comportamentos humanos, descobrindo a sua alegada vantagem reprodutiva na luta evolutiva pela existência (mesmo alguns evolucionistas consideram algumas dessas histórias do tipo “contos de fada” especulativas ou mesmo simplesmente ridículas). Sociobiólogos, e seus colegas no campo relacionado da psicologia evolutiva, explicaram que muitos comportamentos pecaminosos, variando do adultério ao infanticídio, ao aborto, à guerra, ao homossexualismo – e muitos, muitos outros –, evoluíram porque conferiram vantagens reprodutivas  àqueles que praticam esses comportamentos. Por outro lado, eles também argumentam que os comportamentos altruístas, como ajudar os pobres, curar os enfermos e cuidar das pessoas com deficiência, são simplesmente comportamentos que ajudaram nossos antepassados a transmitir os seus genes para a próxima geração.

A ideia, no entanto, de que a evolução mina padrões morais objetivos dificilmente é uma descoberta recente da sociobiologia. Em “Descent of Man”, Charles Darwin dedicou muitas páginas para discutir a origem evolutiva da moralidade, e ele reconheceu o que isso significava: a moralidade não é objetiva, não é universal, e pode mudar ao longo do tempo. Darwin certamente acreditava que a evolução tinha implicações éticas.

Ben Carson, então, dificilmente deveria ser denunciado por argumentar que a evolução tem implicações éticas e que isso prejudica a moralidade. Se os professores da Universidade Emory querem argumentar que a evolução não tem implicações éticas, eles são livres para fazer esse argumento (eu me pergunto quantos deles realmente acreditam nisso). No entanto, se o fizerem, eles precisam reconhecer que não estão apenas argumentando contra “ignorantes” anti-evolucionistas, mas estão argumentando contra muitos de seus adorados colegas na biologia evolutiva, incluindo o próprio Darwin.

Os graduandos da Emory University devem se sentir honrados em receber um discurso do Dr. Carson. Além do óbvio – sua técnica cirúrgica e perícia médica revolucionárias, que lhe renderam uma posição em um dos hospitais acadêmicos mais prestigiados nos Estados Unidos –, sua história de vida de superação da pobreza e sua dedicação posterior à filantropia servem de exemplo e inspiração. Sua disposição de abraçar corajosamente ideias que ele considera verdade, apesar do ridículo que lhe é direcionado, deve contar como outro ponto a seu favor.