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“Foi a Ciência que me Afastou do Ateísmo”

O Dr. Henry Margenau foi professor emérito “Eugene Higgins” de Física e Filosofia Natural na Universidade de Yale. Ele morreu em 1997, mas cinco anos antes, ele e Roy Varghese, um jornalista internacional, editaram um livro intitulado Cosmos, Bios, and Theos: Scientists Reflect on Science, God, and the Origins of the Universe, Life, and Homo sapiens (Cosmologia, Biologia e Teologia: Cientistas refletem sobre Ciência, Deus, a origem do Universo, da vida e do Homo sapiens). Deparei uma resenha antiga do livro há algum tempo, e ele me pareceu interessante; então, decidi colocá-lo na minha lista de leitura.

Margenau e Varghese contactaram alguns dos cientistas mais importantes do século XX, e perguntaram a opinião deles a respeito de Deus e do assunto das origens. No final, eles obtiveram respostas de 60 cientistas proeminentes, 24 dos quais tinham ganhado o Prêmio Nobel. A maioria respondeu as seis perguntas que Margenau e Varghese fizeram:

1. Qual deve ser, na sua opinião, a relação entre religião e ciência?

2. Qual é a sua opinião sobre a origem do universo: tanto em nível científico e – se você vir a necessidade – em um nível metafísico?

3. Qual é a sua opinião sobre a origem da vida: tanto em nível científico e – se você vir a necessidade – em um nível metafísico?

4. Qual é a sua opinião sobre a origem do Homo sapiens?

5. Como deve a ciência – e o cientista – abordar as questões das origens, especificamente as questões da origem do universo e da vida?

6. Muitos cientistas proeminentes – incluindo Darwin, Einstein e Planck – levaram o conceito de Deus muito a sério. Qual é a sua visão sobre o conceito de Deus e sobre a existência de Deus?

Como seria de esperar quando 60 pensadores profundos são perguntados sobre questões tão sérias, as respostas foram variadas e incrivelmente interessantes. Antes de discuti-las, no entanto, é importante destacar dois pontos. O primeiro é feito no prefácio do livro:

O livro Cosmos, Bios, Theos não tem nenhuma pretensão de ser uma pesquisa estatisticamente significativa das crenças religiosas dos cientistas modernos. (p. xiii)

Assim, o leitor não deve usar as respostas contidas neste livro para inferir a atitude geral entre os cientistas em relação à existência de Deus ou à questão das origens.

O segundo ponto é que nem todos os cientistas responderam a essas seis perguntas. Em vez disso, alguns simplesmente escreveram algumas páginas de pensamentos gerais sobre os temas “Deus” e “as origens”. Outros permitiram o uso de entrevistas que já haviam sido feitas com eles por Varghese Roy.

O livro é dividido em quatro seções. A primeira seção contém respostas (ensaios ou entrevistas) de astrônomos, matemáticos e físicos, enquanto a segunda contém as respostas (ensaios ou entrevistas) de biólogos e químicos. Ao ler as opiniões de cada cientista, tentei determinar se o cientista era ateu (não acredita em Deus), agnóstico (não está seguro sobre a existência de Deus), um deísta (acredita em um Deus criador, mas que não é ativamente envolvido com o universo) ou um teísta (acredita em um Deus criador, que é pessoal e ativo no universo). Isso não foi possível em todos os casos, porque alguns dos cientistas mostraram-se evasivos quando se tratava de expor suas crenças específicas sobre Deus.

Entre os cientistas que manifestaram claramente seu ponto de vista, no entanto, eu encontrei algo muito interessante. Quando se tratava de astrônomos, matemáticos, físicos, eu não conseguia encontrar ateus, mas apenas um punhado de agnósticos. A grande maioria ou eram deístas ou teístas. Além disso, os teístas superavam os deístas  numa margem de mais de três por um. Esse não era o caso entre os biólogos e químicos, no entanto. Nesse grupo de cientistas, havia um ateu, e os números foram quase igualmente divididos entre agnósticos, deístas e teístas.

Agora, mais uma vez, este livro não teve a mínima pretensão de ser uma amostra estatisticamente significativa de cientistas, mas a diferença que aparece entre esses dois grupos que mencionei é algo que eu tenho notado em minha própria carreira científica. Em geral, acho que os astrônomos, matemáticos e físicos são consideravelmente mais propensos a acreditar em Deus do que os químicos e os biólogos. Isso também se encaixa com o que o físico Dr. Robert Griffiths disse algum tempo atrás:

Se precisarmos de um ateu para um debate, eu vou ao departamento de Filosofia. O departamento de Física, nesse caso, não é muito útil. (1)

Eu não sei por que os físicos (e matemáticos) parecem mais propensos a acreditar em Deus do que outros cientistas, mas acho isso interessante.

Agora, embora os astrônomos, matemáticos e físicos fossem mais propensos a acreditar em Deus do que os biólogos e químicos, as declarações mais definitivas sobre a existência de Deus vieram de químicos. Por exemplo, o Dr. Christian B. Anfinsen (que ganhou o Prêmio Nobel de 1972 em Química) escreveu:

Eu acho que só um idiota pode ser um ateu. (p. 139)

Não concordo com isso, é claro. Eu já fui um ateu, e não acho que fosse um idiota então. Além disso, eu conheço (e leio) diversos ateus, e muito pouco deles são idiotas. O Dr. D. H. R. Barton, que ganhou o Prêmio Nobel de 1969 em Química, expressou-se de forma um tanto mais leve, mas ainda bastante definitiva:

A ciência mostra que Deus existe. (p. 144)

Concordo plenamente com o Dr. Barton. Foi a ciência que me afastou do ateísmo, e quanto mais eu estudo a ciência, mais definitivamente eu acho que ela aponta para a existência de um Criador.

Embora eu pudesse dizer muito mais sobre o que esses cientistas escreveram em resposta às seis questões que foram apresentadas, eu quero discutir a terceira seção do livro, porque ela também é incrivelmente interessante. Ela contém um debate sobre a existência de Deus entre o Dr. Hywel David Lewis (um célebre filósofo galês) e o Dr. Antony Flew (um célebre filósofo britânico). O que torna este debate tão fascinante é que o livro foi publicado 12 anos antes que o Dr. Flew rejeitasse o ateísmo. Assim, você consegue ler o Dr. Flew apresentando a defesa de uma posição que ele finalmente rejeitou!

Tendo a vantagem de saber em que Flew finalmente acabaria acreditando, acho que este debate revela que ele já estava começando a se sentir um pouco desconfortável a respeito de seu ateísmo mais de uma década atrás. No começo de uma de suas respostas a Lewis, ele escreve:

Notoriamente, a confissão faz bem à alma. Portanto, vou começar por confessar que o ateu estratoniciano tem de ficar embaraçado pelo consenso cosmológico contemporâneo. Pois parece que os cosmólogos estão fornecendo uma prova científica daquilo que São Tomás sustentava que não poderia ser provado filosoficamente, a saber, que o universo teve um começo. (p. 241)

Se você não reconhece o termo (que foi cunhado pelo próprio Flew), um ateu estratoniciano é aquele que pensa que uma vez que não há necessidade de acreditar em Deus para entender o universo, a posição racional adequada é a do ateu.

Durante a maior parte da história da ciência, foi consenso científico que o universo não teve princípio – que sempre existiu e sempre iria existir. Isto, naturalmente, se encaixava muito confortavelmente na cosmovisão ateísta, e era contrário às Escrituras, que ensinam claramente que o universo teve um começo (Gênesis 1:1, Colossenses 1:16, Atos 4:24, etc.). No entanto, quanto mais os cientistas estudavam o universo, mais eles percebiam que esta visão era incompatível com as observações disponíveis. Como resultado, no século XX, o consenso científico foi alterado para aquilo que as Escrituras ensinam: o universo teve um começo. Isso, é claro, não foi suficiente para convencer Flew a abandonar seu ateísmo. No final, foi o design (projeto) que ele viu tanto no universo quanto no mundo biológico que o convenceu de que deve haver um Designer (Projetista). No entanto, é interessante ler que mais de uma década antes que ele abandonasse o ateísmo, considerações científicas já estavam produzindo nele algum desconforto.

A quarta parte do livro contém dois ensaios: um sobre a origem do universo e outro sobre mecânica quântica e o mistério da vida. Eu não achei nenhum desses ensaios de alguma forma significativos. No entanto, o resto do livro é tão incrivelmente interessante que considero que vale muito a pena ser lido. Certamente não é “material leve”, mas pode acender algumas luzes na mente de quem fizer a leitura de forma séria.

Referência:

1. Tim Stafford, “Cease-Fire in the Laboratory”, Christianity Today, April 3, 1987, p. 18.

Fonte: Dr. J. L. Wile Proslogion

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